Dobro de lucro, mas mesmo preço de 2007

11/08/2011 3 comentários

Ontem saiu uma reportagem no valor econômico bem interessante, apresentando algumas empresas que estão hoje com o dobro de lucro, mas tem o mesmo valor de mercado que 2007.

Algumas citadas são: Petrobras, Vale, Bradesco, Itaú e Banco do Brasil.

Alguns trechos:

“os R$ 202 bilhões de preço de mercado alcançados pela Vale em maio de 2007, conforme dados da Economática, equivaliam a 11 vezes o lucro líquido e a 9 vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) que a mineradora registrou em 12 meses até junho daquele ano. Esse mesmo valor de mercado de R$ 202 bilhões representava na segunda-feira apenas 4,6 vezes o lucro e 3,6 vezes o Ebitda da Vale no período de um ano até junho de 2011.”

“O mesmo ocorre com os bancos. O Itaú Unibanco fechou a segunda-feira valendo R$ 107 bilhões na bolsa. A primeira vez que a instituição atingiu esse valor de mercado foi em julho de 2007, bem antes da associação com o rival Unibanco.

Naquela época, o banco tinha lucro de R$ 5,4 bilhões em 12 meses. Na semana passada, o Itaú informou que apenas nos primeiros seis meses deste ano teve ganho líquido de R$ 7,1 bilhões. Em 12 meses até junho, a cifra somou R$ 12,4 bilhões.

Em outra comparação, o mesmo valor de mercado deixou de representar 3,8 vezes o patrimônio líquido e passou a equivaler 1,6 vez o patrimônio, próximo do piso atingido no início de 2009.

A análise desses números pode levar a diversas conclusões. Uma delas é que as empresas podem estar muito baratas agora, como uma reação exagerada do mercado diante da crise fiscal europeia. Outra é que os papéis podiam estar muito caros naquela época, com o Brasil se aproximando de ter sua classificação de risco elevada para dentro da categoria de grau de investimento.

Deixei a última frase em destaque. É interessante que as pessoas querem dar opções sempre, é uma coisa ou outra. Ou os preços estavam caros ou agora estão baixos. Na minha opinião são as duas coisas e vou mostrar porque como base no que já escrevi no site.

Em junho de 2007 tinhamos uma selic de 12,10% a.a. Isso nos daria um P/L da renda fixa em 8,26. Se colocarmos nossa margem de segurança de 20% teríamos um P/L máximo aceitável para compra em 6,88.

Agora vejamos o P/L das empresas na época de 2007 conforme o gráfico do post:

Petrobrás: 10,2
Vale: 11,1
Itaú: 16
Bradesco: 17,1
BB: 12,6

Agora comparem com nosso P/L máximo de 6,88. Qual a margem de segurança que temos? simplesmente nenhuma, é negativa. O que significa que só olhando para esse único indicador já evitaríamos de fazer uma compra equivocada.

Vejamos agora em 2011, com taxa selic de 12,5% a.a, temos um P/L de 8, colocando nossa margem de segurança de 20% , temos um P/L máximo aceitável para compra de 6,66. Vamos ver então o P/L atual dessas empresas de acordo com a reportagem:

Petrobrás: 5,4
Vale: 4,6
Itaú: 10,4
Bradesco: 8,7
BB: 5,1

De acordo com nossa margem de segurança as seguintes empresas se encontram baratas: Petrobrás, Vale e BB. Empresas que ainda estão caras: Itaú e Bradesco.

Essas seriam boas empresas para começar uma análise mais aprofundada de acordo com os critérios baseados em valor. Vale dizer que não estou entrando nos méritos de ingerência de algumas empresas e a interferência governamental.

Portanto, voltando ao início do questionamento, temos as duas situações: empresas caras em 2007 e em 2011 algumas empresas realmente baratas. Essa é a vantagem do investidor em valor, conseguir de forma serena e centrada identificar distorções em um mercado cada vez mais irracional.

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Graham e o Balanceamento de Carteira

10/08/2011 7 comentários

O leitor do blog Renan fez uma pergunta interessante nos comentários do outro post “Mercado”. Resolvi criar um novo post para detalhar qual era a visão de Graham em relação a compras, pois pode ser a dúvida de outros leitores.

Graham trabalhava com 3 perfis de investidores: defensivo, moderado e empreendedor.

Ele então recomendava o seguinte, caso seu perfil fosse conservador: mínimo de 25% alocado em bolsa e 75% em renda fixa.

Se fosse moderador: 50% em cada.

Se fosse empreendedor: 25% em renda fixa e 75% em bolsa.

Então supondo que seu perfil seja moderado, e que você tenha 100k para investir. Você então colocaria 50k em bolsa e 50k na renda fixa inicialmente.

Supondo que haja uma crise como agora, obviamente sua carteira ficará desbalanceada, onde por hipótese você teria agora 60k em renda fixa e 40k em bolsa. Você então faria um ajuste meio a meio novamente. Sacaria os 10k da renda fixa e compraria os papeis que voce selecionou. Com isso temos de novo sua carteira balanceada.

No momento não estou lembrado se Graham dizia em quais niveis de diferença a carteira deveria ser rebalanceada, porém já vi alguns estudos que dizem que chegaram no melhor ponto de equilíbrio quando a diferenca é de 30% entre elas. Portanto, se a diferença entre o que você aplicou inicialmente em renda fixa e bolsa for de 30% é hora de realocar a carteira.

O interessante desse método é que não precisamos adivinhar fundo ou topo, pois usando esse método é muito possível que estejamos comprando e vendendo quando o mercado estiver deprimido e eufórico.

Um exemplo inverso é depois de alguns anos você possuir 65k na renda fixa e 120k na bolsa. Então agora seria o momento de rebalancear, vendendo sua participação na bolsa e colocando igual valor na renda fixa a espera de uma nova oportunidade.

Eu acho esse método muito interessante, talvez o melhor método de compras, mas deve ser seguido com muita disciplina. Melhor ainda se a pessoa estiver entrando na bolsa agora e já começar de forma correta o balanceamento.

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Uma ótima notícia: o Índice Bovespa está derretendo!

Hoje saiu no Valor Econômico na coluna palavra do Gestor um artigo de Bruno Lembi que acrescenta ao meu último post.

Segue:

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Uma ótima notícia: o Índice Bovespa está derretendo!

Bruno Lembi
09/08/2011

Na avaliação da maioria dos investidores, a crise mundial se agravou sobremaneira nas últimas semanas e o fim do mundo se aproxima. Ao menos essa é a leitura de quem acompanha a oscilação dos principais índices de ações.

Neste momento, os investidores tendem a ficar absurdamente desconfortáveis, não perdem um noticiário sequer, ligam para os seus consultores. Buscam, enfim, algum conforto, alguma “palavra de salvação” diante do aparente “holocausto” que se avizinha.

Quando observo esses movimentos, sempre me pergunto por que as pessoas não conseguem seguir aquilo que estudam. Na bonança, repetem aos quatro cantos os preceitos de “comprar na baixa e vender na alta”, mas não passam nem perto de colocar isso em prática durante a crise.

Por que não conseguem ver as realizações como grandes oportunidades? Por que ficam com medo? Medo de gastar metade para comprar a mesma quantidade de ações que, há poucas semanas, gastariam o dobro para comprar?

Ninguém ficaria com medo de comprar um carro zero avaliado em R$ 100 mil que foi colocado a venda por R$ 50 mil. Na verdade, se fizessem um negócio como esse provavelmente se vangloriariam. Por que não fazem o mesmo com as ações?

Talvez seja pelo fato de enxergarem a bolsa como uma espécie de cassino e não como um meio de se tornar efetivamente sócio de grandes empresas com excelentes históricos de sucesso.

Não fosse assim, por que as pessoas não se sentem angustiadas ao saber que o vizinho do andar de baixo vendeu seu apartamento 30% abaixo do seu valor de mercado? Por que, ao saberem de uma notícia como essa, não ligam para o seu corretor colocando o próprio imóvel à venda “antes que o mercado derreta”?

Exemplos como esses são simplistas, pueris, mas guardam muitas similaridades com as ações. Os movimentos são muito parecidos, mas têm efeitos completamente diferentes nas mentes das pessoas.

Meu envolvimento com o mercado de ações começou de forma mais efetiva em 1998. De lá pra cá, já vi e vivi muitas crises, e o movimento dos investidores foi sempre o mesmo. E foram muitas as crises: tigres asiáticos, Rússia, estouro da bolsa de tecnologia (Nasdaq), Argentina, subprime, zona do euro etc.

Sempre os mesmos movimentos de manada, sempre o mesmo desfecho. No meio do turbilhão, o mundo parece desabar e todos vendem as ações a qualquer preço. Depois, à medida que o mercado vai subindo e fazendo máxima atrás de máxima, as pessoas retornam ao mercado!

Nos momentos de alta, com o Ibovespa em recorde histórico, ninguém liga para o seu consultor, some o medo, não acham que a alta possa ser exagerada, que aquela empresa não vale o que estão pagando. E é nos momentos de euforia que me vêm as maiores dúvidas. Como é difícil vender. O papel está caro ou barato? Essa sim é uma análise complicada. Na bonança, os investidores ficam muito corajosos e o que é caro pode ficar ainda mais caro.

Por outro lado, momentos de pânico como o atual representam oportunidades excepcionais de investimento e aqui não tenho dúvida: ótimos negócios podem ser feitos! É muito mais fácil e confortável comprar um ativo que você conhece, analisou e sabe que está barato. Claro que esse ativo pode ficar ainda mais barato. Mas o desconforto de tê-lo em carteira durante esses movimentos de manada é nulo. Com o tempo o mercado sempre acerta essas assimetrias. As empresas têm valor. Os estoques, imóveis, maquinário, “know-how” não sumiram 30% de um dia para o outro só porque as ações despencaram.

Alguns investidores se perguntam o que fazer caso tenham comprado barato uma ação e, mesmo assim, o papel continue caindo por conta da crise. Aproveito esses movimentos para, gradativamente, aumentar minha exposição a ações.

Aliás, aqui cabe uma observação. Para continuar comprando o investidor precisa ser superavitário no seu orçamento. Isso significa que precisa gastar menos do que ganha. Essa é a premissa básica para enriquecer. Sem proceder dessa forma o investidor se vê de mãos atadas em momentos como este e não tem de onde tirar dinheiro para comprar barganhas. Não há mágica para quem não poupa e muito menos para quem gasta além do que recebe. Se algum leitor souber como ganhar dinheiro dessa forma, por favor, me escreva.

Por tudo isso, recordem-se do que leram e estudaram. Releiam os livros. Guardem artigos das crises passadas. Lembrem-se de que os movimentos se repetem e continuarão se repetindo no mundo capitalista. Não fiquem ansiosos, depressivos ou nervosos com os movimentos de baixa. Ao contrário, aproveitem-se deles! As grandes empresas do país estão em liquidação: preços com descontos de até 50%. Aproveitem que é por tempo limitado!

Bruno Lembi é sócio da M2 Investimentos

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Mercado

04/08/2011 13 comentários

Amigos leitores do blog,

O mercado hoje na minha opinião começou a entrar em pânico. Até me lembrou 2008, as memórias dos circuit breaks ainda estão recentes na cabeça de todos.

Minha sugestão nessa hora é manter a cabeça fria. O cenário macroeconômico vem piorando a cada dia e podemos ter outra crise estilo 2008. Seria o que os economistas chamam de recuperação em W.

Pra nós investidores em valor, a partir de agora devemos ter nervos de aço e disciplina para fazermos os investimentos adequados sem sermos contaminados por outras opiniões. Agora é o momento em que todos estarão vendendo e você começará a procurar por boas empresas a preços de barganha. Agora é a hora de começar a comprar 1,00 por 0,50 cents. Você será acusado de estar indo contra a multidão e muitas vezes te chamarão de louco, mas poderá ser um louco rico.

Li uma reportagem no Valor economico do dia 02/08 que 25% das ações do indice estão abaixo do VPA. Hoje com essa queda se bobear ja devemos estar perto de 30%. É hora de começarmos a procurar o seguinte perfil de empresas: que estejam com uma excelente liquidez corrente, dinheiro em caixa, pois em momentos de crise, o crédito na praça seca, e quem tem olho em terra de cego é rei. E ainda empresas com baixíssimo endividamento. Essa deve ser a combinação: liquidez corrente alta e baixo endividamento. Isso é premissa básica.

Achando a empresa certa com os filtros que já discutimos aqui no blog, recomendo que divida seu capital em 6 ou 8 parcelas, e começe a comprar devagar de forma mensal pelos próximos 6 a 8 meses. Se os preços cairem abaixo do preço inicial de compra, compre mais a cada mes. Se o preço estiver acima do preço inicial de compra, não compre, deixe passar e você ficará feliz em vender futuramente por um preço mais alto do que comprou.

Por último, gostaria de dizer que para quem não está preparado ou não tiver estomago pra ir contra a opinião de todos fique de fora e espere o mercado chegar a 100k para começar a comprar, pois é o que a maioria faz.

Eu prefiro estar do lado da minoria, e você?

Boas compras a todos.
abs
Jean

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Fechamento Carteira Mensal Julho

Vamos ao resultado de nossa carteira mensal Graham:

No mês:
Carteira: (1,99%)
IBOV:(5,74%)

No ano:
Carteira: 2,37%
IBOV: (15,12%)

Rentabilidade da carteira desde o ínicio em 12/08/10: 29,26%

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Howto do Investimento em Valor

27/07/2011 4 comentários

Na área de TI quando se utiliza o termo Howto, é um passo a passo de como fazer alguma coisa. Resolvi pegar esse conceito e utilizá-lo aqui para comemorar um ano de blog. Tentei resumir os principais tópicos a serem observados pelo investidor em valor ao longo de anos de estudo (me desculpem se eu esquecer de algum detalhe):

– Ação com preço abaixo do ativo circulante líquido, as chamadas guimbas de charuto.

– Observar a liquidez corrente (relação ativo circulante e passivo circulante).

– Verificar a relação dívida e patrimônio líquido.

– Ver no ativo circulante a evolulação do caixa, capital de giro.

– Conhecer o que afeta as margens da empresa estudada.

– Ficar atento no balanço a fatores recorrente e não recorrentes, principalmente no lucro, resultados não operacionais.

– Se duas empresas tiverem o mesmo valor, observar bens intangíveis como marca pode ser uma boa.

– Os funcionários tem que estar satisfeitos em trabalhar na empresa, afinal são eles que fazem a coisa acontecer.

– Observar se os produtos da empresa são bons e não estão próximos do fim do ciclo.

– Não importar com o curto prazo, a principal pergunta que deve ser feita é como será o resultado da empresa que eu escolhi?

– Caso goste de projeção e queira projetar o P/L da empresa, uma maneira simples de fazer isso é pegar o resultado do primeiro trimestre da empresa multiplicar o lucro por ação por 4 e dividir pelo preço atual. O resultado é o P/L projetado.

– O critério adequado de avaliação não é a variação dos preços e sim a reavaliação constante para saber se o preço ainda oferece desconto em relação ao valor.

– Quando os múltiplos usados pelo filtro inicial estiverem acima da média do mercado sem que haja qualquer razão pra isso, ou perspectiva, talvez seja a hora de vender.

– Graham dizia que a multiplicação do P/L e P/VPA só poderia dar no máximo 22,5. Com isso você poderia ter um P/L mais alto e um P/VPA mais baixo ou vice versa.

– Sempre calcular a margem de segurança.

– Se você não é um Warren Buffet, o melhor é diversificar sempre. Ela pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso no mercado de ações.

– O poder de lucro da empresa deve ser sempre acima da renda fixa para o investimento valer a pena.

– Não adianta investir em uma empresa com preços descontados se a rentabilidade dela é péssima. Como por exemplo no ROE.

– Sempre ficar atento a dividendos. Observar se administradores picaretas estão retendo os lucros sem investimentos descentes que gerem valor ao acionista.

– O valor tem que retornar para os verdadeiros donos que são os acionistas. O pagamento de dividendos tem que ser constante e não somente o mínimo por lei (payout) de 25%.

– Quanto maior o dividendo menor a volatilidade da ação e maior valorização.

– Quando os dividendos são altos os lucros são altos.

– Ficar atento em programas de recompra de ações, pode ser um sinal que o valor da empresa esteja subvalorizado. Sinal que os administradores acreditam no negócio e preferem investir na própria empresa do que em outra coisa.

– Observar pagamento de executivos com opções de ações. Isso pode ser um mal negócio.

– Procurar empresas com lucros e Patrimônio Líquido crescente nos últimos 5 anos. Mínimo de 50% de lucro em comparação do primeiro com o quinto ano.

– Procurar empresas com poucas ou nenhuma dívida. Se tiver dívidas de preferência caindo.

– Observar estrutura da dívida, o que é de curto e longo prazo e como isso pode afetar o caixa.

– Principais Filtros utilizados (selic a 12,5%):
P/L < 6,6
P/VPA 1,5
ROE > 12,5
Dividend Yield > 3%
Dívida Bruta/PL 20%

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1 Ano de Blog

25/07/2011 2 comentários

Pessoal,

Essa semana estamos fazendo um ano de blog. Sinceramente quando criei esse blog era para servir como um diário de tudo que aprendi sobre o investimento em valor durante anos, onde eu iria anotando sobre meus estudos, idéias e conclusões. E então eu faria uma consulta ao site sempre que necessário para aprender com meus erros e acertos.

Continuo utilizando o site com esse objetivo, porém aberto a todos que quiserem aprender e compartilhar experiências do investimento em valor.

Durante esse tempo abordei diversos assuntos sobre investimento em valor, criei uma carteira real baseada em valor e ensinei passo a passo através dos estudos como fazer análises de empresas, entre tantas outras coisas.

Enquanto houver assunto e puder compartilhar algo estarei mantendo esse projeto. Espero que ainda seja por um bom tempo.

Agradeço a todos que participaram, sugeriram ou criticaram durante esse período.

Abraços a todos.
Jean

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Mundial – MNDL4

21/07/2011 5 comentários

Esse é o papel do momento, com alta de mais de 1000% em 12 meses e só se escuta falar dele em blogs, fórums, jornais, etc. A grande pergunta que devemos fazer nesse caso é: é uma empresa para ser sócio?

Vamos avaliar os múltiplos dela:
P/L: 65,70
P/VPA: 7,79
P/Capital de giro: negativo
Yield: 0,3%
P/Ativo Circ Liq: negativo
Margem Líquida: 3%
ROE: 11,9%
Liquidez Corrent: 0,63
Div Bruta/ PL: 2,19

Só de olharmos um P/L e P/VPA nesse patamar já descartaríamos investir nessa empresa. Chama a atenção a empresa não ter capital de giro, ou seja vai ter que se endividar cada vez mais pra pagar as contas.

Se olharmos ainda a consistência de seus lucros, vemos que simplesmente que não há. Observem o gráfico abaixo do lucro anualizado nos ultimos anos. É prejuízo atrás de prejuízo. E em nossas escolhas devemos sempre investir em empresas que tenham tido lucros consistentes (de preferência) nos últimos 5 anos.

Vou parar de analisar por aqui, pois senão vamos descobrindo cada vez mais coisas ruins da empresa. Podemos concluir então que não há qualquer motivo para investir nessa empresa, toda essa alta é um movimento de especulação. E o que acontece sempre nesses casos são investidores sem orientação entrando nesse movimento e pagando a conta dos outros.

Ontem o castelo de areia já começou a desabar, com queda de mais de 50%, hoje mais 50%. Minha recomendação é sempre ficar fora disso, mas caso realmente deseje apostar (sim, pois isso é uma aposta) e não tenha dinheiro pra ir para Las Vegas, coloque um valor financeiro já sabendo que você irá perde-lo e que não irá te fazer falta.

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Selic 12,50%

Conforme expecativas do mercado a taxa selic foi ajustada em .25 p.p, trabalhando agora na casa de 12,50% a.a. Se nossa bolsa ja sofre no ano, o aumento da taxa contribui ainda mais para essa queda.

Como de constume, vamos reculcular nossa margem de segurança de 20%:

Poder de lucro atual da Selic: 12,50%
P/L da Selic: 100/12,50= 8

Colocando uma margem de segurança de 20%:
Poder de lucro: 12,50%+20%= 15%

Ou seja quero empresas que tenham pelo menos 20% a mais de poder de lucro do que a Selic para valer o risco.

Calculando o novo P/L:
P/L Máximo para compra: 100/15= 6,66

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Análise Direcional Engenharia

Estive numa reunião de investidores realizada pela APIMEC da Empresa Direcional Engenharia. Como sou de Minas e me interesso pela empresa resolvi participar do evento que foi muito bem apresentado por seu CEO, diretor de RI e diretor comercial.

Gostaria de inicialmente falar de alguns pontos do negócio da empresa que me chamam a atenção.

A Direcional Engenharia é uma empresa mineira do setor de construção civil focada em baixa renda fundada em 1981 e fez sua abertura de capital em 2009. A empresa possui grande concentração de capital nas mãos da família Valadares através da holding Filadelphia Participações de 47%. Conforme gráfico abaixo:

A empresa possui baixa liquidez na bolsa, mas chama a atenção possuir fundos soberanos de países como Singapura na relação de acionistas minoritários. Apesar de ser uma empresa de capital aberto a pouco tempo já é possível avaliar alguns pontos.

Ao contrário de muitas outras empresas do setor de construção civil, a Direcional Engenharia diversifica sua atuação no ramo da seguinte forma:

– 1/3 fora do Minha casa minha vida (normalmente imóveis acima de 100k)
– 1/3 no Minha casa minha vida de 0 a 3 salários mínimos
– 1/3 no Minha casa minha vida de 3-10 salários mínimos

Com isso a empresa não fica dependente somente do programa minha casa minha vida, mas tem ainda uma concentração de 66% do core business da empresa no programa e 78% do banco de terrenos no segmento popular. O risco governo no negócio é grande.

A forma de financiamento dos imóveis que a empresa trabalha é através da união, poupança ou fundo de garantia.

Hoje o segmento que tem mais crescido na empresa é o de 3 a 10 salários mínimos. O que mais chama a atenção é o segmento de 0 a 3, que é a grande aposta da empresa, pois estão sozinhos nesse tipo de construção para baixíssima renda. A grande vantagem do 0 a 3 é que é encarado pela empresa como se fosse um contrato de prestação de serviços, onde o recebimento é mensal.

Funciona da seguinte forma: é fechado um contrato entre a Direcional e Caixa Econômica Federal e então todo mês a CEF faz medições da obra para ver o andamento e a partir disso faz o pagamento. Não existe inadimplência, calote e outros riscos desse tipo de negócio por ser o governo o contratante. A CEF então faz a venda direta dos imóveis para os clientes. Esse é o tipo de negócio que toda construtora gostaria. Não há risco de inadimplência, pois o projeto já nasce vendido para a CEF. A empresa deve ficar atenta é nos custos da obra que podem aumentar durante o contrato, gerando assim um prejuízo, caso as parcelas não sofram reajustes.

Segundo os diretores da empresa ela simplesmente não tem concorrente nesse segmento de 0 a 3 e ai está o grande diferencial em relação a concorrência. Os diretores esperam que consigam uma boa fatia do market share e acreditam que com isso a empresa possa ter um valor oculto de até 500mi.

Outro diferencial da Direcional é já estar posicionada em mercados emergentes. Enquanto outras empresas estão agora se posicionando, seu foco principal sempre foi a região norte, com as principais obras em Manaus e Porto Velho, apesar de atuar em diversos outros estados como Minas, Rio, DF, SP, ES e PA. A Direcional com mais de 11 mil funcionários, praticamente não terceiriza mão de obra o que obviamente aumenta seus custos operacionais, mas em contra partida lhe dá mais controle e cobrança de resultados de acordo com as metas estabelecidas.

A empresa possui uma confortável posição de caixa, talvez umas das empresas com o maior caixa do setor, e a administração tem a meta de sempre manter esse caixa alto para que seja possível aproveitar boas oportunidades e estar bem em épocas de vacas magras. Outro detalhe importante é a baixa alavancagem da empresa, gosto de empresa desse tipo, pois significa que crescem com as próprias pernas em vez de depender de outros.

É importante dizer que a empresa só apresenta as vendas contratadas no balanço a partir do momento que o cadastro do cliente é aprovado pela CEF. Então imagine que a empresa tenha vendido todas as unidades de um prédio em um feirão de imóveis e somente uma pessoa teve seu cadastro aprovado pela CEF. Então nesse caso somente será incorporado no balanço da empresa uma única venda. O restante será apresentado nos próximos balanços a medida que os cadastros forem sendo aprovados pela CEF. Esse é um detalhe que merece atenção, pois pode dar a falsa impressão que a empresa teve uma redução nas vendas, quando na verdade pode ter acontecido o contrário.

Alguns indicadores citados pelos diretores durante a apresentação:
– Uma das maiores Margem Líquida do setor (~23%)
– Alto ROE (~25%)
– Média de 90% de crescimento a.a.
– Projeção de crescimento de 40% em 2011
– Projeção de crescimento da Receita líquida de 50% em 2011.

Conhecendo um pouco da empresa, vamos agora dar uma olhada em seus e verificar se condizem com o que a administração diz:

Cotação em 12/07: 10,85
P/L: 9,84
P/VPA: 1,57
P/Capital de Giro: 1,43
P/Ativo Circulante Líquido: 2,24
Yield: 2,4%
Margem Líquida: 19,2%
ROE: 16%
Liquidez Corrente: 3,48
Divida bruta/PL: 0,33
Divida Liquida: negativa

Média do setor:
P/L: 11,77
P/VPA: 1,46
Margem Líquida: 15,57%
ROE: 16,01%
Divida Bruta/PL: 0,83

A análise feita aqui é um pouco diferente do que os leitores do blog estão acostumados, pois não temos um período de 5 anos da empresa para que possamos fazer uma análise mais consistente. Vamos utilizar apenas informações a partir da abertura de capital em 2009.

Observando os múltiplos anteriores temos um P/L da empresa no momento atual abaixo do P/L do setor, um P/VPA acima do setor, margem líquida acima do setor e ROE na média do setor. O endividamento bruto da empresa está bem abaixo do setor, junto com uma liquidez corrente bem alta, com posição confortável de caixa para crescer e passar por crises sem precisar se endividar.

Gráfico de cotações da empresa a seguir. Observem como a empresa oscilou desde a abertura de capital praticamente dentro do intervalo de 10,00 a 11,50, sendo que seja abertura de capital foi em 10,50.

Observem no gráfico abaixo como desde o IPO o P/L e P/VPA vem caindo. E como o VPA e o LPA bem subindo. Posso concluir que esses indicadores vem diminuindo pelo aumento do VPA e LPA, pois conforme vimos no gráfico anterior de cotações, o preço de mercado da empresa manteve-se dentro de um intervalo curto de oscilação.

A seguir os gráficos de Lucro Líquido da empresa trimestral e Patrimonio Líquido trimestral, confirmando a expectativa de aumento de lucros e PL da empresa.

Conclusão: Apesar da Direcional Engenharia ser uma empresa que se destaca no setor com ótimos indicadores, ela se encontra cara no momento. O poder de lucro da empresa se encontra hoje abaixo da renda fixa em 10,16% (100/9,86), mas acima do poder de lucro do setor de 8,49% (100/11,77). O ideal é que tenhamos uma empresa com poder de lucro acima do setor e da renda fixa para que o investimento seja interessante. Como nosso modelo de investimento em Valor é comprar empresas que valem 1,00 por 0,50, esse momento ainda não chegou. Porém vale a pena ficar de olho nas cotações e balanços da empresa, pois qualquer desvalorização exagerada do mercado pode ser uma boa oportunidade de ser sócio de uma excelente empresa e pouco conhecida.

Deve ser levado em conta ainda o risco governo na empresa, pois 66% do seu core business está em planos do governo, qualquer suspensão ou alterações de planos do governo pode sacudir fortemente a empresa. Porém, acredito que o governo populista ainda tem muito a dar de casas para a baixa renda, trazendo lucros diretos a empresa.

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